Davi Roballo*
A questão indígena não é recente como parece ser, quando vem à tona através dos escândalos gerados pela inépcia de responsáveis pelos segmentos que cuidam dessa política, retratando o descaso em que vivem esses genuínos brasileiros.
Na atualidade em que nos encontramos incutidos, quando eclode o reflexo de um desleixo para com os indígenas, surgem as críticas de vários setores da sociedade, todos imputando a outrem, a responsabilidade por tamanhos efeitos de repercussão que isto ocasiona, principalmente na imprensa, que teimosamente insiste investir nos aspectos mais grotescos e negativos possivel. Ninguém, absolutamente, sai de traz da cortina, para com hombridade assumir sua parcela de culpabilidade por tais acontecimentos fatídicos como o assassinato do líder indígena Nísio Gomes.
De quem será a culpa? Minha? Sua? Dos poderes constituídos? Creio que é de cada um de nós, enquanto sociedade constituída. Que deve cobrar providências, daqueles que elegemos para serem nossos representantes. Além do mais, devemos atentar para a demagogia que certos políticos fazem em época de eleição, apresentando números que não correspondem com a realidade dos fatos. Números que não são investigados e/ou apurados pelos meios de comunicação, que parecem mais porta-vozes dos políticos locais. Veículos de informação, que não se importam em levar ao conhecimento da opinião pública a real situação em que vivem os indígenas, numa forma clara e realista dos fatos escondidos debaixo do tapete, descartados, por não terem peso para repercussão política e autopromoção para certos políticos, explorando apenas o sensacionalismo, ignorando o dever cívico-social da imprensa livre.
Vale ressaltar, que o índio antes da chegada do homem luso, a essas terras longínquas do continente europeu, era um homem livre, senhor de si mesmo, um soberano que reinava nas terras que cingem rios, matas e campinas verdejantes. A chegada do branco impiedoso e inclemente lhe rouba a cena, sequestra sua condição de homem livre, amaldiçoa sua crença e a bagagem cultural que seus antepassados haviam conservados até então como uma transfusão de sangue através de seus ritos e tradições. Alteram sua credulidade, fazendo-os rezar em outros rituais em outras naves, adestrados por sotainas pretas como se não tivesse uma cultura, um credo, uma identidade... Confundiram sua ausência de ganância e egoísmo com obtusidade, e desde então passaram a tratá-lo com um ser à parte do contexto humano. Como se não bastasse aprisionar sua liberdade, incineraram seus ideais, amputaram sua geografia lhes confinando em apriscos, que por capricho literal batizaram de reservas indígenas.
Hoje, com o tempo já bastante mudado, é lamentável observarmos em nosso cotidiano as várias manifestações do descaso que nos rodeiam, como crianças indígenas, circulando pelas ruas, no sol escaldante, a garimpar uma muda de roupa, um pedaço de pão, enquanto adultos são assassinatos em nome da desmedida ambição territorial para cultura agropecuária, numa maldita repetição dos atos que roubaram de seus antepassados a auto-estima, os ideais e espaço num passado não muito distante.
Mas, nem tudo parece perdido. Atualmente, mesmo com as calamidades ocorrendo nas aldeias, jovens indígenas letrados começam a erguer em tom soante a voz oprimida dos povos ameríndios. Cansaram de esperar do poder publico e dos políticos aproveitadores e já se mobilizam politicamente reivindicando por direito um lugar nas decisões políticas, pois nas palavras do professor indígena Aguilera “só entende das questões e problemáticas indígenas, o próprio indígena”. Os efeitos dessa organização e mobilização político-social teremos, já em 2012, ano eleitoral, onde a comunidade indígena fará de tudo para ter um representante que reivindique respeito e o que lhes é de direito.
*Jornalista - DRT 697
Especialista em Jornalismo Politico
Especialista em Comunicação e Marketing
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