terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Indígenas e jornalistas fazem debate sobre representação do índio na mídia



Por André Bento

Um grupo de comunicadores e indígenas de Dourados se reuniu neste fim de semana para discutir a representação do índio na mídia. O encontro ocorreu no Núcleo de Atividades Múltiplas (NAM) da Aldeia Jaguapiru e fez parte do projeto de extensão “Diálogos em Comunicação”, desenvolvido pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). 

O debate contou com a participação da jornalista Karine Segatto, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Grande Dourados (Sinjorgran) e do jornalista e antropólogo Spensy Pimentel, pesquisador do Centro de Estudos Ameríndios da Universidade de São Paulo (USP), além de comunicadores da região e membros da comunidade indígena local. 

Representação equivocada 
Em meio ao acirramento das discussões sobre os conflitos fundiários – sobretudo após o ataque a comunidade Tekoha Guaiviry -, uma frase definiu bem o objetivo do encontro. “Estamos tentando reverter toda essa situação. Buscar uma forma de melhoria para nossa comunidade”, disse o Guarani Ñandeva Aguilera de Souza. Membro da Gerência de Educação Escolar Indígena do Município e professor de uma universidade local, ele se referia às situações em que indígenas são discriminados ou utilizados como instrumento político. 
O Terena Nilcimar Morales também fez coro às queixas e foi além. Ele apontou as consquências de uma representação errônea da realidade indígena. “Os outros países vêem o Brasil como se tratasse bem do índio. Isso quem faz é a mídia”, opinou. O professor Aguilera concordou com o Terena e acrescentou que a imprensa não é a única responsável pelo desvirtuamento dessa representação. “O próprio livro didático traz uma imagem do índio muito negativa. Você vê o índio pelado, com arco e flecha na mão. E hoje já temos índio doutor. Muitas vezes, a própria educação reproduz esse olhar sobre o índio”.    

Problemática nacional 
De acordo com Spensy Pimentel, as queixas da comunidade indígena sul-mato-grossense são comuns em todo o território nacional. “Essa problemática daqui está no Brasil todo”, afirmou. Para ele, a realidade vivida em Mato Grosso do Sul é bastante complexa e reflete um senso comum concebido pelo jornalismo de um modo geral. O pesquisador mencionou matérias produzidas em mídias dos grandes centros para ilustrar os equívocos cometidos por jornalistas.


Pimentel lembrou que muitas vezes a mídia trata o indígena sob a ótica do exotismo. Desta forma, busca promover a sensação do descobrimento, do novo e do atraso em termos evolucionistas para atrair audiência. “A maioria desses grupos tidos por isolados já tiveram contato com a civilização. Eles escolheram dar as costas para ela por que não viram nada que lhes interessasse”, citou como um dos exemplos de equívocos cometidos pela imprensa ao promover a representação indígena.
  
Modo de vida
A concepção do índio como preguiçoso, por não comungar dos modelos de produção do não-índio, também foi alvo do debate. Para o professor Aguilera, “em Mato Grosso do Sul, muitas vezes o índio é visto como preguiçoso ou vagabundo”. Neste sentido, Pimentel lembrou a diferenciação entre fazendeiros e indígenas. “Os fazendeiros gostam de ser chamados de produtores, como se os indígenas não produzissem”, disse. O pesquisador da USP lembrou que as formas de produção e seus objetivos são diferentes para os dois grupos. 

Além disso, Pimentel ressaltou a necessidade que haja essa diferença cultural. “Aquilo que não tem pluralidade definha. É preciso pensarmos em como desmontar essas concepções”, pontuou. Para ele, mudar essa realidade demanda um “trabalho de formiguinhas” e é necessário que o comunicador assuma o papel de agente de transformação social e promova a conscientização e o respeito às diferenças e à pluralidade cultural.

Legenda: Grupo de indígenas recebeu comunicadores da região no Núcleo de Atividades Múltiplas (NAM) da Aldeia Jaguapiru
Imagem: André Bento/GD News
FONTE: GD News

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